Oscar Niemeyer - o inventor de cidades

Oscar Niemeyer - a inspiração divina
O Rio de Janeiro é conhecida pelo mundo fora como a cidade de mil encantos, fonte de inspiração divina e, no coração dos cariocas, é indiscutivelmente a verdadeira capital do país. Tanto para os que já lá estiveram como para os que conhecem a cidade através de revistas, postais e telenovelas, esta cidade destaca-se pela beleza natural, pelas linhas sensuais e pelas formas curvas, visíveis nas baías, nas montanhas e, claro, nas mulheres.
Mas a cultura desta cidade limita-se precisamente a isso, ao culto da praia, da noite, do samba e do Corcovado. É insignificante o número de pessoas que visita o Rio de Janeiro com algum interesse cultural, ou que na sua esta­ da percorra museus e outros espaços dedica­ dos a exposições ligadas à cultura e à arte. Mas as edificações de Oscar Niemeyer, uma das grandes referências da arquitectura contemporânea, fazem parte integrante da cul­ tura e da história do Brasil e merecem ­ aliás, obrigam - uma visita.
Um dia, Carlos Drummond de Andrade escreveu num dos seus versos: "Oscar desenha na areia seu edifício", e, tal como disse o próprio arquitecto, "de um risco inicial nasce a arquitectura e até na areia isso pode acontecer". Conhecido mundialmente como o criador de Brasília, a capital futurista do Brasil, edificada entre 1956 e 1964, Niemeyer foi também pai de inúmeros outros projectos pelo mundo fora, destacando-se a Capela de São Franciscd e o Bairro Novo de Pampulha, Belo Horizonte (1940-43); a sua própria residência "Canoas", no Rio de Janeiro (1952); o prédio das Nações Unidas em Nova Iorque, desenhado em conjunto com Le Corbusier; o hotel do Casino, no Funchal (1966-74); o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Rio de Janeiro (1991).
Na foto (em cima): imagem do Congresso nacional.
Oscar Soares Filho Niemeyer nasceu em 1907 no Rio de Janeiro e lá permaneceu até 1934, data em que terminou os estudos na Escola Nacional de Belas Artes. Foi precisamente nesta altura que Niemeyer foi "apresentado" ao modernismo pelo professor e mentor Lúcio Costa, o primeiro grande impulsionador brasileiro da arquitectura moderna. Em 1936, pouco depois da sua formação académica, Niemeyer trabalhou durante um breve período no Rio, com o arquitecto Le Corbusier, cujas influências são visíveis nos trabalhos seguintes.
Das influências de Costa e Le Corbusier, e fortemente marcado pelas suas raízes tropicais, Niemeyer desenvolveu um estilo próprio, caracterizado por linhas contínuas e esculturais. Ferro e cimento em abundância são os materiais essenciais nas estruturas e edificações dramático-poéticas que representam as formas curvas da sua cidade natal. Estas linhas curvas acabaram por ser uma alternativa às linhas rectas que mar­ cavam o estilo arquitectónico dos anos 30. Tratando-se de Niemeyer, é sempre preciso ter em conta o aspecto inovador e revolucionário do artista.
Na foto (em cima): imagem do Palácio Itamaraty.
Quando trabalhavam juntos no projecto do edifício das Nações Unidas em Nova Iorque, Le Corbusier disse a Niemeyer que ele tinha as montanhas do Rio de Janeiro dentro dos olhos, ao que o arquitecto brasileiro respondeu: "Não tenho apenas as montanhas do Rio dentro de mim. Tenho dentro de mim tudo o que vejo e amo nesta vida. E a vontade de criar surpresa e de encontrar uma nova forma de contestar." Para o artista, a arquitectura corresponde a uma expressão política, ao progresso e a uma evolução social e política do homem. Reconstruir ou manter a linha dos prédios antigos, característicos da era colonial, era sinónimo de parar no tempo. O objectivo era criar espaços imponentes e, acima de tudo, funcionais. O modernismo na arquitectura correspondia a uma visão progressista, que caminhava em direcção à utopia política, neste caso, o comunismo.
E a inspiração, como o próprio artista confirma, provinha da vida em si, das formas naturais e da surpresa. A tentativa de criar novas formas é omnipresente no trabalho de Niemeyer, que procura reflectir no cimento armado a invenção da arquitectura. O projecto de Brasília é o exemplo mais óbvio desta tentativa: o plano da nova capital, feito a pedido do presidente da altura, Juscelino Kubitschek, e em conjunto com Lúcio Costa, é consagrado mundialmente e levou Niemeyer ao auge da sua carreira. Em 1961, depois de Brasília, o arquitecto voltou a trabalhar por conta própria, tendo vivido durante alguns anos em Paris e Israel.
Na foto (em cima): imagem da Catedral.
A "flor" de Niterói
Também conhecido como a "flor de Niterói", o Museu de Arte Contemporânea da cidade (MAC) foi concebido em 1991, altura em que Niemeyer voltou do exílio e apresentou um novo estilo, iniciando assim uma nova era na sua arquitectura. O museu assemelha-se a uma nave espacial, pousada num promontório, e parece que vai levantar voo sobre a paisagem. "Flor", foi como o arquitecto apelidou a obra, embora muitos críticos digam que o traço moderno não tem qualquer semelhança com uma flor, nem nada que se lhe pareça. A ideia de plantar uma "flor" no meio da cidade, numa zona pouco visitada por turistas, deu origem a uma das mais importantes obras de arquitectura do século XX. "Não raro, o próprio terreno indica-nos o caminho a seguir. Vale mesmo a pena visitar o museu, nem que seja para ver o Rio de Janeiro do lado de "lá", ou seja, uma vista de 360º que permite observar toda a baía de Guanabara, o Pão de Açúcar, o bairro do Flamengo e, acima de tudo, que permite olhar para a cidade maravilhosa de um ângulo diferente do habitual. Oscar Niemeyer é uma lenda viva.
No início do século XXI, foi convidado para um projecto em Moscovo e, além de todos estes compromissos, o artista ainda arranja tempo para dar palestras, "livre para todos e sem formalismos", como afirma, sobre temas ligados a arquitectura, na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, e assiste também a aulas de filosofia, todas as terças-feiras! Oscar Niemeyer não é apenas uma lenda viva, mas foi um aluno assíduo da vida e um mestre da arquitectura e da sabedoria. Um exemplo para as gerações vindouras.

1 comentário:

  1. Acho as obras de Niemeyer incríveis e me considero um privilegiado em morar em Brasília e poder ver muitas delas quase diáriamente. Quanto ao Rio de Janeiro, é natural que lá ainda tenha um sentimento de ser capital, e a Rede Globo tenta vender a cidade a todo custo, mas quem conhece Brasília sabe muito bem que o feeling de capital também já se mudou para cá.

    Quanto às fotos que você postou, só para constar, a primeira é do Congresso Nacional, a segunda do Palácio do Itamaraty, e a terceira da Catedral.

    Ao lado da Catedral foram construídos dois prédios que faziam parte do projeto de Niemeyer mas que ainda não haviam sido edificados: o Museu da República e a Biblioteca Nacional. Esta última tem um projeto super inusitado, vale a pena pesquisar uma foto.

    Abraços.

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